sexta-feira, 11 de abril de 2008

Respirações


Respirações presas, pausadas e profundas. Parece-me, às vezes, difícil de respirar, talvez, quem sabe, porque eu queira respirar o mundo inteiro numa só golfada de ar. Encho o pulmão, abro a boca para tentar respirar o mais fundo que puder e paro. Paro de respirar. Agora tenho, aqui dentro de mim, partículas do mundo que tanto anseio. Elas agora fazem parte de mim e não quero deixá-las mais sair. Mas elas lutam, querem voltar para o mundo. Quando egoísmo meu querê-las só para mim! Elas ainda têm que percorrer tantos lugares, fazer parte de outras tantas pessoas. Se elas ficassem só para mim, perderiam sua mágica de pertencer ao mundo todo. Vou soltando-as devagar, sentindo-as passar pela minha boca e pelo meu nariz. Sentindo o gosto e o cheiro que cada uma trás. Cheiro dos ventos das montanhas mais altas, gosto da cor das flores mais azuis, cheiro do seu corpo junto ao meu, gosto dos seus olhos em mim, cheiro de mar, gosto de rio, gosto do som do canto de todos os pássaros. Vou sentindo e apreciando cada cheiro e cada gostinho, me despedindo de cada um desses pedacinhos de mundo. Pulmão vazio é o ar que se esvai e o mundo que me deixa. Só. Só comigo mesma. Mas dessa vez não tão mais só porque sei que pedacinhos deste mundo correm agora em minhas veias e que pedacinhos de mim andam agora pelo mundo, em lugares que, de outra forma, eu não poderia visitar. A solidão não dura muito, aspiro o ar novamente e ganho o mundo inteiro.

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